AraujoBlog
domingo, 29 de janeiro de 2012
Queda em Copacabana
Os acidentes
aeronáuticos são eventos profundamente investigados. Existem trabalhos
estatísticos que indicam circunstâncias e períodos em que estes eventos se
manifestam com maior freqüência, e como para confirmar as estatísticas, mergulhei
na praia de Copacabana com o PT-AQG.
Com
este evento, confirmei a estatística, que preconiza a ocorrência de acidentes
com pilotos de dez em dez anos, e o meu ultimo tinha dez anos.
Outra
estatística, diz que é comum um acidente aeronáutico com pilotos que estão se
separando, e eu estava terminando meu primeiro casamento.
Em um dia comum
decolei para uma pescaria, e ao alinhar a reta final, o motor parou.
Como
estava ao lado esquerdo da pista, simplesmente derivei e pousei sem maiores
problemas.
Depois
de estar parado, algumas pessoas que estavam na grama para operação da faixa,
vieram até a aeronave e a empurraram para o estacionamento, onde foi feita a
manutenção do carburador por Carlinhos recolocando no lugar uma bóia que regula
a entrada de gasolina para a queima. Sendo assim decolei novamente para voar
duas faixas nas praias da zona sul.
A
primeira hora decorreu sem nenhuma dificuldade, porém enquanto estava voando a
segunda hora, o motor parou novamente, e desta vez tinha acabado de passar pelo
forte Copacabana, e estava no sobrevôo da praia.
Numa pane em que se perde cem por cento da
potência, deve-se ter um procedimento previamente planejado, porém na
propaganda aérea, se voa a uma altura, em que não se pode fazer outra coisa, a
não ser pousar na água, principalmente naquele dia em que na praia não se tinha
mais espaço para colocar nenhuma barraca, muito menos posar uma aeronave.
Apesar
de estar com o vento de cauda, apliquei todo o flap, e tentei colocar o avião
em uma posição em que a minha velocidade fosse a menor possível, e no momento
do impacto tocasse primeiro a cauda, para que o choque fosse ainda mais
amortecido.
Os prédios na rua da
praia, rapidamente foram tomando as dimensões características da paisagem de um
pedestre.
Um instante antes do
momento em que iria tocar com a cauda na água, percebi um impacto, e bati com a
cabeça na janela de acrílico à minha esquerda, que se deformou sem se quebrar,
amortecendo o impacto.
Tudo
a minha volta girou, e depois de um intervalo de tempo que não posso mensurar,
tudo estava parado e quieto. A minha frente via o pára-brisa do avião como um
aquário, e eu pendurado em meu cinto de segurança de cabeça para baixo, fiquei
durante algum tempo, tentando me repor daquele lapso perdido, em que tudo
aconteceu sem a minha ingerência, pois a roda do lado direito tocou na água, e
fez com que a aeronave rodasse, e mergulhasse de frente ficando de cabeça para
baixo.
Depois
de conseguir identificar minha posição, soltei o cinto e me pus a andar no teto
do avião, percebendo que ele tinha um leve movimento, e também um pequeno
ruído, que identifiquei como sendo o barulho da água entrando na aeronave, que
paulatinamente afundava comigo dentro.
Concluindo
que o destino do AQG seria o fundo do mar, passei a procurar uma saída, que
naquele momento estava de ponta cabeça. As portas estavam sem as maçanetas de
dentro, e a direita estava à esquerda e a esquerda estava à direita, e durante
as tentativas que fiz para encontrar a maçaneta da porta pelo lado de fora, tateando
em todas as direções, tive a impressão de que o tempo passava a uma velocidade
que não seria possível fazer mais nada.
Porém
encontrei a maçaneta e abri a porta.
A
principio tentei abri-la rapidamente, porém o peso da água me impediu de fazer
um movimento brusco, e enquanto a empurrava, dava acesso à água que passou a
invadir a aeronave, que se inundaria rapidamente.
Com
a porta aberta, pude ver abaixo, a asa, que seria a minha passarela para a
liberdade, daquele claustro naufrágio.
Enquanto
estava de pé sobre a asa, passei a verificar se tinha sofrido alguma lesão, e
percebi que estava sem nenhum arranhão, e em um novo movimento atemporal, o
avião levantou a sua cauda, afundou sua proa. Então fiquei de pé, na parte
posterior da asa, (o bordo de fuga) que rapidamente avança para o fundo.
Quando
estava com a água na altura da cintura, me pus a nadar em direção da praia, de
onde vinha um coletivo de nadadores e surfistas com suas pranchas.
Depois
de conseguir me desvencilhar de alguns nadadores que tentavam me salvar, e
quase me afogaram, pedi emprestada uma prancha de um dos surfistas, que
amarrado a ela, infelizmente não conseguiu me acompanhar, o que fez com que eu
a devolvesse, e voltasse a nadar.
Saindo
da água, fui ovacionado e aplaudido em cena aberta, por aquela população de
pessoas, que como eu não imaginavam, que em um dia tão bucólico, poderiam
observar uma cena tão dantesca, com um desfecho tão eminente e pragmático.
Enquanto ainda estava
na areia, apareceu um negão de quase dois metros, chamado King, que pelo que
entendi era o dono daquele trecho de praia, e me escoltou até a calçada, onde
depois de pouco tempo apareceu uma viatura da polícia, uma equipe de repórteres.
E concomitantemente, King sumiu.
Já
dentro da viatura, respondi algumas perguntas dos repórteres, que faziam o seu
furo de reportagem, e logo depois os policiais entraram, e como se divertindo,
ligaram a sirene e saíram em disparada para o hospital mais próximo, onde
passei por alguns exames. Foi constatado que não tinha sofrido quaisquer dano.
Então os mesmos policiais me levaram para uma delegacia, onde pude fazer uma
ligação para o aeroporto, e soube que a proprietária do avião, já estava ciente
do ocorrido, e tomava providências para resgatá-lo.
Depois de uma longa
espera, e várias entrevistas, tive a surpresa de ver entrar na delegacia um
piloto conhecido, que morava nas imediações, e veio em meu socorro por
solicitação da dona da companhia. Fomos até sua casa, onde tomei um banho, e
ele me emprestou uma muda de roupa, pois as minhas, estavam salgadas pela água
do mar.
Enquanto
estava em sua casa, apareceram pessoas, que me olhavam de forma curiosa, e
quando me eram apresentadas se comportavam de uma forma estranha, como se
confrontassem com uma curiosidade.
Saindo dali, fui ao
encontro da proprietária da aeronave, que estaria em uma colônia de pescadores,
ao lado do Forte na praia de Copacabana.
Chegando
lá, encontrei em um píer, um casal formado por ela e um senhor de alguma
patente, que estaria envolvido com o resgate. Estranhando a minha presença,
pediu para que me identificasse, o que foi feito por Clara, que não parecia tão
indignada quanto imaginei que estivesse.
Depois
de algum tempo surgiu um barco, o qual ainda não tinha percebido a presença, e
levou um cabo até a praia, para onde nos dirigimos, e encontramos com um
contingente de bombeiros e transeuntes, que com a minha ajuda, tracionaram para
fora da água o PT-AQG, com os trens de pouso para cima e amarrado pela cauda,
enquanto uma pequena arrebentação, quebrava as suas ondas sobre ele, que
devidamente salgado, não sobrou nem o prefixo.
Tendo
visto aquele enterro ao contrario, saído de dentro d’água, fui para casa, onde
minha segunda esposa, com a qual não tive contato, pois na ocasião não existiam
aparelhos celulares, já tinha tomado conhecimento de tudo pela imprensa.
Dei-lhe alguns detalhes do que tinha acontecido, e fomos dormir.
No dia seguinte
começaria uma maratona de investigações e exames médicos, para revalidar meu
certificado de capacidade física, o que me poria em vôo novamente.
A
partir daí, nos dias que se passaram, e por algum tempo, pude experimentar o
que é ser famoso.
Lembro
de um episodio muito interessante, que aconteceu no super mercado, em que o
gerente, que recebia o pagamento das minhas compras com o cartão do banco,
disse me conhecer. Então respondi que deveria mesmo, pois eu pagava todo mês a
conta de minhas compras com ele, e tive como resposta que me conhecia, mas não
era dali.
Nesta ocasião, a
queda do PT-AQG foi divulgada amplamente pela tv e pelos jornais, merecendo uma
matéria na revista de domingo de um jornal de grande circulação, que por
incrível que pareça, me foi apresentada dois anos depois de sua publicação, por
uma colecionadora, que conheci por acaso, e jurava me conhecer.
No que diz respeito a
meu certificado de capacidade física, não tive dificuldades, além de ter que
passar por um exame equivalente a um inicial.
Porém as
investigações a respeito do motivo do incidente demorou mais algum tempo, tendo
que ir por várias oportunidades a órgãos desta competência, para prestar
esclarecimentos a respeito do ocorrido.
O
laudo da pane concluiu que o motivo da queda, foi falta de combustível, apesar
da aeronave ter sido abastecida como de costume, dos liquidômetros indicarem
que havia combustível nos tangues, de haver um cheiro insuportável de gasolina
na hora do resgate, e do carburador, que apresentou o defeito pela manhã, ter
sido investigado pelo mecânico que disse tê-lo consertado.
A propaganda
esta no ar
Eventos e aventuras aéreas.
A
expectativa do ressurgimento da paisagem criava uma perplexidade coletiva,
enquanto navegávamos no iluminado nada celestial.
Um
instante antes do momento em que iria tocar com a cauda na água, percebi um
impacto, e bati com a cabeça na janela de acrílico à minha esquerda, que se
deformou sem se quebrar, amortecendo o impacto.
Eu estava voando dentro de círculos coloridos que se
multiplicavam, envolvendo a aeronave, no céu enevoado, com gotículas de água,
que possibilitavam a decomposição da luz, para produzir aquele efeito de
inigualável beleza.
Em
uma determinada época, foi usado um toca-fitas e um amplificador, que ficavam
no painel, e quatro alto-falantes instalados no piso do avião, virados para
baixo, fazendo com que a aeronave se transformasse em uma caixa se som voadora,
sendo eu o tripulante e passageiro de várias viagens sonoras pelos céus
cariocas.
Decolei com destino ao campo no topo da favela, e em
contato via radio com a equipe de produção, passei a executar as manobras
solicitadas pelo diretor.
Não
antes de passar rasante sobre a areia, onde com acenos entusiasmados, nos
despedimos naquele teatro, que apesar de simular uma das grandes tragédias da
humanidade, propiciou com som e movimento uma encenação digna de um épico.
Quando Pedro me relatou este evento, deu ênfase a
circunstância em que estava em um vôo perfeito, completamente relaxado,
aproveitando paisagem, e esta condição o levou a um estado de espírito
tranqüilo e contemplativo, que a partir de então passou a temer, por considerar
que este estado de espírito antecede grandes tragédias.
Depois de estabilizar a aeronave, soltei o cinto de
segurança e fui ate aquela escuridão embaixo do painel para verificar meu
problema.
Depois de voarmos por
aproximadamente meia hora, pousamos, e a repórter com um lindo sorriso de
contentamento, declarou que invejava a minha profissão, pois segundo ela
deveria ser maravilhoso viver voando pelo céu, tendo como paisagem, aquilo que
havia testemunhado há poucos instantes.
Para baixar o livro completo, clique no link abaixo.
https://www.dropbox.com/s/buj1bau0lanqg20/A%20propaganda%20est%C3%A1%20no%20ar.docx
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